Thiago Cervan nasceu em São Bernardo do Campo/SP em 1985 e vive em Atibaia/SP. É educador popular, roteirista, poeta e um dos idealizadores do Sarau do Manolo, evento que acontece mensalmente em Atibaia/SP. Também co-organiza o Atibaia Slam Clube, evento literário que mistura literatura e esporte. Em 2012 publicou o livro Sumo Bagaço pelas Edições Maloqueiristas e em 2014 lançará o seu segundo livro, Dentro da Betoneira.
1-Quando a literatura começou a fazer parte de sua vida?
Minha educação formal foi razoável. Pegava livros na biblioteca da escola para ler e ia muito à biblioteca do Clube Recreativo Esportivo Cultural Baeta Neves (CREC), em São Bernardo. Sempre estudei na rede pública, fui aluno durante os anos 90 onde o processo de sucateamento da educação no Estado de São Paulo já sinalizava a destruição que hoje podemos constatar. Talvez eu faça parte da última geração que saiu da escola pública ao menos alfabetizada. Como a música, a literatura, de uma forma ou de outra, sempre esteve presente.
2-O que levou você a cursar Publicidade?
Em 2002 prestei o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), quando este dava somente alguns pontos para o ingresso em universidade públicas. Depois em 2003 começou o Prouni (programa que transfere dinheiro público pra faculdades privadas de péssima qualidade) onde conquistei uma bolsa devido à nota do ENEM obtida no ano anterior). Na região que eu morava não tinha muitas opções de curso ou era Administração, Direito e Publicidade. Escolhi Publicidade, mas não sabia o que estava fazendo. Na real nem queria estudar, mas minha tia Cleide me pilhou e acabei indo. Hoje nem trabalho mais com publicidade, o que é uma benção.
3-Fale um pouco sobre seu novo livro Dentro da Betoneira?
Os poemas deste livro foram escritos entre os anos de 2011 e 2014 e estão divididos em quatro partes: pedra, água, areia e cimento. Cada uma das partes representa elementos que são utilizados na betoneira – que é uma máquina de fazer concreto utilizada na construção civil. Procurei escrever um livro em que a forma e o conteúdo estivessem em consonância, mas não sei se consegui isso, quem irá dizer isso são os leitores.
4- Que espaço a literatura ocupa no seu cotidiano?
Sempre tenho algum livro na mochila. Tenho lido cada vez mais poesia; a prosa tem me interessado menos.
5- Que livro os brasileiros deveriam ler com extrema urgência?
Tribunal Popular: O estado brasileiro no banco dos réus é uma boa indicação.
6-Como é seu fluxo de trabalho como escritor?
Não escrevo diariamente. Geralmente fico alguns dias trabalhando em um mesmo poema, depois o guardo e o leio alguns dias depois. Grosso modo, demoro para terminar um poema, sempre mudo algo. Acredito muito na construção poética: no escrever, reescrever, jogar fora, reciclar. Penso que, como tudo na vida, escrever é um exercício e, quanto mais você escrever/ler, mais repertório, mais habilidades você desenvolverá e consequentemente poderá melhorar a sua escrita.
7- 5 livros, 5 filmes que deveríamos ler/assistir antes de morrer?
Livros: Dentro da noite veloz de Ferreira Gullar; A rosa do povo de Carlos Drummond de Andrade; Malagueta, Perus e Bacanaço de João Antônio; Marighella : o guerrilheiro que incendiou o mundo de Mário Magalhães e Homens e Caranguejos de Josué de Castro.
Filmes: O encouraçado Potemkin de Sergueï Eisenstein; A língua das mariposas de José Luis Cuerda; O capital de Costas-Gavras; Roma Cidade Aberta de Roberto Rossellini e A Batalha de Argel de Gillo Pontecorvo.
8 – Qual candidato à presidência ficará com a cereja do bolo?
Não tenho ideia, sempre votei nulo, mas dessa vez meu voto é do candidato Mauro Iasi que pertence ao PCB (Partido Comunista Brasileiro), que não aceita financiamento de empresas em suas campanhas eleitorais e tem propostas que mexem com a estrutura da sociedade brasileira como reforma agrária, descriminalização das drogas, reforma urbana, dentre outras.
9- Em tempos de pós-copa do mundo, o que poderá acontecer com a economia do país?
O capitalismo mundial está em crise. A Europa está falida, os problemas sociais do EUA estão vindo cada vez mais à tona, a África fora dizimada e Israel está praticando uma política de extermínio do povo palestino, ou seja, o barato tá loko. O Brasil está nesse mesmo contexto caótico, acredito que as tensões sociais se acirrarão, pois diversos direitos trabalhistas estão sendo surrupiados; há uma crescente criminalização dos movimentos sociais e também é crescente a militarização do estado brasileiro, sem contar todos as demandas da população que não são atendidas, tais como saúde, moradia, educação. Porém é nos momentos de crise que a humanidade se reinventa, acredito que a população terá a chance de dar um salto de qualidade na construção de um novo processo, porém não acredito em teorias mágicas: só a autorganização dos trabalhadores e trabalhadoras será capaz de barrar a destruição do capitalismo que já se demonstrou um modelo societário falido, ou isso se efetivará, ou a barbárie continuará até a extinção da raça humana.
10-Dica para os marinheiros de primeira viagem? Como começar a escrever com estilo? Se possível, indique uma gramática ou livro que inspire a escrever.
Ler muito, pesquisar, cotejar autores e mais, entender que a literatura não é algo apartado da vida, é um bom começo. Para leitura, recomendo o livro A necessidade da arte de Ernst Fischer.
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