Personagens sem nome. Uma mulher que não consegue dormir. Um enredo em que nada é o que parece ser. Esses são só alguns ingredientes do conto Sono, de Haruki Murakami. Inédito no Brasil, o escritor da terra do sol nascente brinda seus leitores com um enredo singelo e ao mesmo tempo perturbador (cá entre nós, isso é uma marca desse autor).
O livro começa com a própria narradora, uma mulher na casa dos trinta anos que simplesmente declara “É o décimo sétimo dia em que não consigo dormir.” A partir dessa confissão bizarra, ela segue narrando seus dias sem sono. Madrugada adentro, ela começa a desenvolver malucas teorias sobre os benefícios e malefícios que o ato de dormir pode causar no ser humano. Além disso, parece viver em grande conflito com as imagens do filho e do marido, cujos rostos lhe causa mal estar.
Dia após dia, tudo o que ela consegue é ficar acordada. O que chega a ser estranho é que ela não se sente mal com isso. Seu corpo não apresenta sinais de cansaço, pelo contrário, sente-se cada vez melhor.
O conto segue em um ritmo leve, com a narrativa solta e que nos prende de modo sutil. Entre uma noite e outra, a personagem desfruta do prazer da leitura e drinques. Sonhos povoam sua mente, pesadelos assumem a forma de um velho de capaz negra e que visita seu quarto durante a noite para regar seus pés. O desfecho fica por conta do leitor, e quanto mais atento ele for, melhor será o entendimento da obra.
Sono de Haruki Murakami é de fato um belo exemplar de conto bem escrito. Digo isso não por conta de seu autor, que dispensa elogios, mas sob o ponto de vista crítico literário. O mote é interessante, pois muitas pessoas nutrem interesse por histórias que envolvem o campo dos sonhos, pesadelos e a escuridão. E o conflito do conto é exatamente esse, uma mulher que passa a habitar a escuridão de um pesadelo que parece nunca ter fim.
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