Lev Tolstói (1828-1910) é um autor com muitos adjetivos. Sempre que lemos algum de seus romances ou contos, vem uma impressão de saciedade e a vontade de não ler um outro escritor. Alguns autores como Khalil Gibran e Herman Hesse, também traz-nos este sentimento de completude.
Autor já conhecido aqui da casa, através de A Felicidade Conjugal (1859) e A Morte de Ivan Ilitch (1886), Lev Tolstói retorna em a Sonata a Kreutzer, com a temática da infidelidade, que o assombra em outros romances, tais como citados acima, A Felicidade Conjugal e Anna Kariênina.
Tolstói causou escândalo com A Sonata a Kreutzer, ao apresentar a confissão de Pozdnichev (protagonista da história), aristocrata casado com uma mulher muito mais jovem. A princípio casamento visto por Pozdnichev como descarrego sexual,que com o passar do tempo, transformou-se no seu maior tormento.
O mote da história, Pozdnichev, conta a um desconhecido (o narrador), no decorrer de uma noite, em meio a uma longa viagem de trem, sobre sua vida de casado, dissabores, rotinas e suspeitas de ter sido traído pela esposa.
Como um trem desgovernado por sensações e suspeitas inconclusas, que fazem-nos, recordar do Bruxo do Cosme Velho, em seu Dom Casmurro, com as suspeitas de Bentinho sobre Capitú.
Escritor controverso e muitas vezes visto como uma persona non grata por seus biógrafos, em seu livro “ A Sonata a Kreutzer”, existe uma semelhança com casal ficcional indelével, a diferença de idade entre Tolstói e Sofia era grande. Quando casaram em 1862, ele tinha 34 anos e ela, 18. Abaixo deixamos vocês com um trecho da obra, que além da temática principal é também uma homenagem a Ludwig van Beethoven, boa leitura!
“De uma maneira geral, a música é terrível! O que é a música? Não sei. Que efeito produz? E porque atua deste modo? Dizem que eleva as almas. É absurdo! É mentira! Exerce grande influência, mas não eleva a alma de maneira nenhuma. Como explicar isso? A música obriga-me a esquecer a minha existência, a minha situação real, transformar-me. Debaixo de sua influência parece-me sentir aquilo que não sinto, compreender o que não compreendo, ser capaz daquilo que na realidade não sou… Na China, a música é dirigida pelo Governo. Devia ser assim em toda parte. Como permitir que um homem qualquer, um músico, sobretudo se é uma criatura sem moral, hipnotiza as pessoas e faça delas tudo quanto quer? Poderá, por acaso, tocar-se num salão, entre mulheres decotadas, o presto da Sonata a Kreutzer, por exemplo? Como será possível ouvir esse presto, aplaudir um pouco e depois bebericar e comentar a última fofoca? É preciso, depois de ouvir a música, fazer aquilo que ela nos inspirou. Não pode deixar de ser prejudicial provocar um sentimento que não possa manifestar-se.” (trecho de A Sonata a Kreutzer)
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