O laboratório incansavelmente estudado e desempenhado com vigor por esse duo paulistano chamado Radio Diáspora, rendeu seu mais novo resultado.
Romulo Alexis (trompete) e Wagner Ramos (bateria) dessa vez não pouparam suas artilharias e munições. Sob a alcunha de NEGRO HUMOR, eles apavoram em mais um disco lançado e disponível desde março nas plataformas de streaming da banda e do selo responsável pelo lançamento, a Brava!
São 07 músicas numa vibe free jazz, laboratoriais e experimentais, sem deixar de lado o engajamento nos títulos e nas improvisações clássicas de um duo de free jazz.
Destaque para as faixas Muhammad Ali 1 e Muhammad Ali 2 que são instrumentais bem interessantes com vinhetas de Malcom X, além de Al Shabazz 1 e Al Shabazz 2, canções mais cadenciadas, com um ritmo mais lento, mas não menos quebrado.
Falaremos mais a seguir, especificamente de 3 faixas que simbolicamente dão o tom político, afrontoso e provocativo do disco.
Faixa 1 – DESPACHO:
Abertura porrada na orelha, com vinhetas de notícias antigas sobre a famigerada chacina dos homens negros na periferia. Ao fundo bateria e trompete simbolicamente destemperados assinam embaixo a denúncia enquanto na vinheta diz sem parar “os jovens negros mortos como cães na periferia”. Música embala a temática do disco, sem firula, dura e direta.
Faixa 4 – NEGRO HUMOR
Faixa título, pesada, densa e cheio de samplers dissonantes e vinhetas de vozes. Instrumental coeso, bateria e trompete parecem estar numa perseguição entre eles atrás da nota perfeita sem sair desse looping avassalador de sons. “Esta piada deixou de ser engraçada” – é a vinheta mortal desta faixa.
Faixa 7 – MEIA NOITE
Última faixa, temática ritualística, sobre religiões de matrizes africanas. Música de protesto e denúncia contra intolerância religiosa, num país que se diz laico, mas completamente hipócrita e egoísta. Aqui é cada um por si e deus acima de todos, enquanto o massacre do povo negro não cessa, seja pela violência literal, seja pelas piadas “inofensivas” proferidos por brancos. Bateria presente com batuques e som de caixa fortes repicados em plena improvisação, dando o vácuo perfeito para o trompete acompanhando e cortando em cima pegando nota sobre nota. A maré alta vai abaixando o tom até se acalmar de vez nos segundos finais encontrando a brisa perfeita do encerramento.
Negro Humor é um disco necessário para este período em que falta empatia, um alento de esperança e conforto nessa tristeza sem fim que é viver dentro de um cenário pandêmico. Vamos deixar na íntegra para nossos leitores apreciarem. Boa audição!
# Abutres não ouvem Jazz – EP45 – Entrevista 09 – Wagner Ramos ( Rádio Diáspora )
Revoada – jazz com experimentalismo do duo paulistano Radio Diáspora
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