Aldir era médico e sua especialização era a psiquiatria, que teve início na década de 1970, experiência traumatizante que largou em 1974. A ideia de viver só de música — o compositor iniciante já conseguira a façanha de ter sido gravado por Elis Regina — venceu. Daí vieram as parcerias aos pouquinhos, inúmeros amantes, deste casamento chamado música: João Bosco, Sílvio da Silva, Paulo Emílio, Maurício Tapajós, Paulo César Pinheiro, Moacyr Luz, Cristóvão Bastos, Edu Lobo, Carlos Lyra, Djavan, Ivan Lins, Raphael Rabello, Luiz Carlos da Vila, Ed Motta, Jayme Vignoli, Moyseis Marques, Guinga e sabe-se lá, quantos mais músicos existem nesta panela.
Ele possuía 2 vícios, dos quais nós do duofox também compartilhamos com ele. Estes dois vícios são: o Jazz e os Romances Policiais. Temas deste livrinho maravilhoso, chamado “ O gabinete do doutor Blanc: sobre jazz, literatura e outros improvisos” da Editora Mórula, lançado em 2016 é possível elencar seus autores preferidos: Hammett, Chandler, Ross Macdonald, Vázquez Montalbán, James Ellroy, Lawrence Block, Henning Mankell, Luiz Alfredo Garcia-Roza. Embora também se divertisse com a velha guarda anglófona: John Dickson Carr, Ngaio Marsh, Margery Allingham, P. D. James, Ruth Rendell. No altar, o Sherlock Holmes de Conan Doyle.
No primeiro texto da coletânea chamado Coltrane e Mingus, Aldir escancara sua paixão: “jazz é vício. Não tem essa história de flertar com o lance, brincar com o material, dar uma cafungadinha e voltar, são e salvo, para o aprisco (bééé!) familiar. Jazz é feito paquerar a cunhada, passar a mão na mulher do amigo, beijar no elevador a colega de trabalho: começa leve, mas deixa cicatrizes profundas”.
Outro trecho do mesmo texto: “Já que tocamos no assunto, não há jazz, com a possível inclusão de Bud Powell e Charlie Parker, seres do planeta tão fascinantes como John Coltrane e Charles Mingus”.
E para finalizar, terminamos com mais um trecho deste livro que parece conversar com leitor ou cantar para o leitor, seja lá como Aldir tenha feito isto, ele transcendeu sua vida através das palavras: “Mas ouvir Ray Charles é como orar” em nome de Parker, do Mingus e do John Coltrane – jazzmen!
Boa leitura!!!!
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