1-Quem é Nenê Altro?
Sou tipo o moleque que decidiu sair da fila da escola, enquanto todos seguiam, pensei… “não é por aí não” … e decidi escrever o meu próprio caminho. E foi assim que entrei no movimento punk, na música e no anarquismo.
2-De que forma você conheceu o fanzine? Qual foi sua primeira publicação?
Conheci o fanzine em meados dos anos 80, do gótico ao independente (todo movimento alternativo daquela época) faziam zine.O zine era o facebook dos anos 80, todos compartilhavam, xerocavam e passavam para frente. Peguei um…WC zine dos anos 80.
Eu falei “eu posso fazer isso”, fiz o primeiro, um bem punkinho, zine revolta, autodidata, bigorna e o antimidia. Em breve vamos lançar um livro, coma entrevistas do antimídia.
3- Conte sobre a história do Antimidia.
Fiz zine em xerox a vida inteira, sempre gostei de fazer zine e tal. Só que que quando comecei a me corresponder com as pessoas de fora, principalmente E.U.A, comecei a ter contato com o zine impresso, pois por aqui era pouco comum. Vi que era possível, consegui apoio em anúncios, juntei uma grana, caso precisasse para pagar os periódico. Foi assim que surgiu o antimidia, entrevistei as bandas que eu queria, dos meus amigos, o que era muito legal.
4-Qual o fluxo de trabalho para escrever os livros e Antimidia?
Escrevo todos os dias, escrevo até coisa que não público. Acordo de manhã, faço o café e escrevo. É rotina diária, as vezes fico aqui na cozinha ou subo em cima da laje. Geralmente vira letra, livro e geralmente são interligados. O último livro, foi uma letra que virou 40 páginas, daí saiu o livro, é tudo interligado, um universo só. Uso muito para desabafar, para colocar para fora. Por isso Dance of Days é tão confessional, tão verdadeiro. Porque não consigo cantar letra de outra pessoa, me embanano todo. Eu tenho um sentimento para poder cantar. Sinto que aquela letra passa e coloco para fora. Quando é uma letra que não possui muito significado, acabo me perdendo, não funciona.
5-O que mudou nos fanzines, após a invasão dos blogs?
Teve um enfraquecimento, isso não podemos negar. Diminuiu muito, as pessoas pararam de fazer zines para fazer blogs. Mas é mentira falar que fanzine morreu, tem muita gente fazendo fanzine, só não é mais tão popular como antes. Tem a UGRAPRESS que possui um anuário de fanzines. Tem zine para caralho, o Douglas faz um trabalho fodido catalogando zines. Para fugir deste discurso que o Zine acabou, acabou nada, é mesma coisa que dizer que o show de garagem acabou, acabou não, é só as pessoas que pararam de se interessar. Na verdade isso foi uma coisa muito boa, do mesmo jeito que em 2004 e 2005 teve uma explosão musical, o EMO se popularizou e muitos vieram para o Hardcore como trampolim para grandes gravadoras. Isso acabou descaracterizando o meio, hoje em dia a onda acabou e todos foram fazer forró universitário, só ficou quem é, que veio por causa disso e se encantou com o meio e é autentico, faz a coisa. O mesmo aconteceu com o fanzine. Teve muita gente que começou fazendo blog, conheceu o zine e começou a fazer zine. Hoje o Flavio Grão, grande artista e que também faz zines, está aqui e isso é o legal o movimento independente.
6-Suas canções possuem muitas referências literárias, qual é o intuito disto?
Eu sempre li, desde moleque, odeio futebol e esporte na verdade, então na minha adolescência fui lendo, como sempre tive muito esta visão do autodidata, aprendi com os anarquistas, Jaime Ribeiros, sempre me orientou de você aprender sozinho, de você conhecer o que você quer conhecer. Isso sempre me encantou e desde aquela época sempre li e isso acaba refletindo no jeito de escrever e na bagagem cultural. O legal é que incentiva as pessoas pesquisarem. Mas isso é colocado não como uma fórmula, com sai é espontâneo. Pois não gosto de seguir formula, a música tem que ser verdadeira, independente de ser simples ou complicada tem que ser verdadeira.
7-Li em seu livro Clandestino que você utiliza o software Adobe Pagemaker para diagramar.É possível ainda trabalhar com este software de 2001?
É.. já não posso mais. A gráfica do Antimidia não utiliza mais. Há 3 anos atrás tinha feito um zine com pagemaker.Mas agora, havia ligado para fazer a nova edição do antimidia, e eles disseram “nós fazemos, mas só temos este programa por sua causa, ou você se adapta ao Indesign ou não faremos seu jornal”, apanhei mas aprendi. É coisa de velho resistente.
😯 Clandestino é um livro mais esperançoso em relação aos anteriores, o que melhorou após 40 anos?
O Clandestino é o primeiro livro que escrevo como uma necessidade de sobrevivência, em relação aos livros anteriores, estava numa fase ruim da vida, então colocava a poesia para fora, para não ficar fritando na cabeça e me sentia um pouco aliviado quando escrevia. Foi uma fase muito difícil. Foi uma batalha para sair daquilo, que rendeu 3 discos, Lírios aos anjos, Insônia e. a Dança das Estações. E a partir do Disco Preto começou a mudar. Acredito que o caminho natural é com o tempo você escrever coisas positivas. Fui melhorando, batalhando dia após dia e hoje estou bem.O Clandestino me possibilitou escrever de uma maneira sem sofrimento.
10-Dicas para fanzineiros de primeira viagem?
Tentem fazer sem computador, é muito mais legal, com xerox e máquina de escrever, quanto mais roots mais legal. Claro que o Antimidia é feito no computador, mas o lance artístico está no paste-up, cortar e colar e fazer acontecer. É aí que está a arte.
11-Diz aí, 5 discos, 5 zines e 5 livros que uma pessoa tem que ouvir/ler antes de morrer?
Mano Chao
Lifetime
Avail
….
Gabriel Garcia Marquez
Mutarelli
…
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