1-Quem é o Leonardo Panço?
Um gordinho do subúrbio do RJ que toca guitarra, faz discos que alguns amigos ouvem, livros que um pouco mais de amigos leem, gosta de tomar cerveja, viajar, mas tem medo gigante de avião e precisa tomar remédios pra voar. Mais ou menos isso.
2-Você gosta deste lance de diário de bordo?
Olha, meu livro fez todo o sentido do mundo na época, gostei muito de fazer, de reler, espalhar, teve um certo pioneirismo eu acho, algum tipo de importância. Algumas pessoas lançaram livros parecidos depois. Cinco anos depois eu escrevi sobre uma tour dos Replicantes e esse texto ainda não saiu. Espero que saia no ano que vem, no máximo. Mas hoje eu não faria um outro nos mesmos moldes, acho que acaba se repetindo. Pelo menos eu me repetiria.
3-Por quê escrever em primeira pessoa?
No livro do Jason tinha tudo a ver, né. Uma experiência absolutamente muito pessoal. Já o Caras dessa idade já não lêem manuais, nem todo é na primeira pessoa, muitas coisas que são, na real são ficção, né. Mas é um pouco do meu estilo, eu acho.
4-Fale um pouco sobre sua formação no jornalismo?
Rapaz, fui lá na faculdade, não me esforcei tanto assim, e um belo dia eu estava formado. De qualquer modo, bem antes disso eu já escrevia em zines, revistas, até jornal mesmo. Não queria ter um emprego fixo pra poder tocar, sair em tour, mas acabou acontecendo um convite, não pude recusar por estar na miséria na época, e lá se vão 14 anos empregado.
5-Qual a importância do livro Esporro para cena underground do Rio de Janeiro?
Ahahaha, muito pouca, eu acho. É meu livro menos vendido, fala de uma época muito específica, dois anos no geral. O alcance foi bem limitado.
6-Como foi o processo de composição do disco tempos?
Eu tenho essa ideia de um disco meu com vários cantores há muitos anos, mais de dez, antes de sair o (disco do) Probot do Dave Grohl, o solo do Slash, que são propostas parecidas, não? Mas tudo que eu fiz nesses anos todos foi para o Jason, então precisou eu sair de lá, esfriar e fazer outras coisas. Depois que saí, acho que a guitarra ficou na casa do Flock uns três meses e depois mais uns três na minha casa sem eu ter prazer. Tocava e achava chato, não curtia. Até que em algum momento foi voltando o prazer, os riffs foram aparecendo, fui tocando e montando as partes. Acho que no segundo semestre de 2010. E daí foi levando o tempo necessário pra amadurecer a vontade, achar que era um disco, que tinha faixas suficientes, que gostava dos riffs. Sempre tocando só quando tinha vontade, o que era essencial.
Então esse disco só existe porque foi todo composto no meu sofá do quarto dos fundos. Depois é que que levei pros três caras que tocaram as bases comigo para a gente arranjar. Isso tudo num tempo recorde de três dias. Os três também ex-Jason. O David (baixista), que gravou o quarto disco, o Fábio Brasil (bateria, hoje no Detonautas), que tocou no terceiro do Jason, em sete faixas, e o Pedro Schroeter (bateria) nas outras cinco faixas. O Pedro foi o cara da tour gringa de 2001, que ao final decidiu não voltar e que acabou morando dez anos na Suíça.
Tem a ver com angústia, ansiedade, neuroses. A vontade de registrar o que eu ia criando. Alguns desses riffs eu toquei quase que diariamente por dois anos até gravar. Tanto que em um dia a gente gravou um ensaio, passou tudo. Fiquei mais leve, sem aquilo de peso. Talvez se parasse ali, já teria até funcionado. Mas aí acabei achando que “ah, por que não fazer um disco? ” É capaz que vá gostar. E foi, sempre com as minhas regras de relaxamento, sem estresse, levando o tempo que fosse necessário. Então, do primeiro ensaio até sair foram 16 meses. Não teve pressão nenhuma.
7-Como é seu processo de escrita? Como é seu workflow no dia a dia?
Não sei o que é um workflow, mas algo me diz que não tenho um. Escrevo quando acontece, às vezes não escrevo uma linha por seis meses. Nos últimos tempos escrevi praticamente nada exatamente porque preciso primeiro terminar o disco e o livro novos, é um trabalho gigantesco. Mais de um ano já. Então só vou conseguir escrever de novo quando isso for publicado.
8-5 discos, 5 filmes e 5 livros que você levaria para uma ilha deserta?
Cinco discos do momento então pra mudar um pouco, e não os clássicos.
- Impossível Breve da Jennifer Souza
- Real/Surreal e Éter, ambos do Scalene
- Nadir do Facada
- Eterno Treblinka – Looking for an answer
Filmes
- Quase famosos
- Warriors
- Pulp Fiction
- Relatos Selvagens
- Cidade de Deus
Livros – Praticamente nunca releio livros. Sempre priorizo um inédito, então capaz que não tenho os que eu li várias vezes. Alguns que marcaram muito foram Cartas na Rua do Bukowski e On The Road do Kerouac. Esses deram vontade de sair por aí de carona, tomando umas com um bloquinho e escrevendo as loucuras. Em menor nível foi o que eu fiz. Dois dos meus livros foram escritos em duas temporadas pela Europa, uma tocando e a outra viajando de lá pra cá, meio perdido mesmo. Foi bastante angustiante, mas enquanto experiência e inspiração, esses últimos 90 dias que geraram o ‘Caras’ foram essenciais. Penso sempre em refazer. Feliz Ano Velho marcou bastante também. E nos últimos tempos dois livros feitos por roqueiros gostei demais mesmo. O do Duff do Guns e o do Bob Mould. Cada um por seu motivo especial.
9-Dicas para marinheiros de primeira viagem.
Fazer o que gosta é essencial e se dedicar também. Dinheiro pode ser consequência. Ou mesmo nem nunca chegar. Então faça o que quiseres, pois é tudo da lei.
Contato:leonardopanco@gmail.com
Confira o trabalho solo do Leonardo Panço
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