A obra prima de Guimarães Rosa é um livro que assusta do começo ao fim. No início, a linguagem incomum faz com que muitos desistam de cruzar essa travessia árida, que vai se estendendo por historietas que se entrelaçam deixando o leitor perplexo e muitas vezes atordoado com a visão do narrador personagem e os feitos que se desenvolvem pelas páginas iniciais.
O narrador demonstra um nível de consciência muito acima na média, no entanto, em momento algum, deixa de assumir suas fragilidades, próprias do homem sertanejo que por vezes precisa fazer escolhas difíceis e fundamentais para sua sobrevivência.
Como diz um trecho do livro: O sertão é sem lugar. E é exatamente dessa forma que Guimarães Rosa constrói a narrativa, utilizando uma temporalidade singular e explorando as características essenciais do povo dos gerais. A relação entre os jagunços rompe com o habitual e nos transporta para um lugar que, por mais desconhecido que possa ser, se aproxima do leitor.
Aos que tiverem a coragem de romper as primeiras páginas, asseguro uma partilha de sentimentos francos. Riobaldo, o Fausto do sertão, certamente tem muito a nos ensinar.
Os fatos relatados pelo narrador, na primeira parte da obra serão aparentemente desconexos, no entanto, personagens e acontecimentos vão se relacionando de uma maneira surpreendente durante o caminhar da saga de Riobaldo. Clássicas questões filosóficas complementam a linguagem característica que permeia todo o texto, que apesar disso, tem em uma de suas principais características, a simplicidade do homem sertanejo que vive da “alegria que encontra em raros momentos de distração”.
A leitura deste texto é capaz de transportar o leitor para o mundo dos gerais e apesar dos percalços dessa travessia, a aventura certamente valerá todos os esforços.
Grande Sertão: Veredas é assim: Você entra um e sai vários.
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