1-Antes de qualquer coisa, fale um pouco sobre o surgimento do Giallos?
Galvão – Tudo culpa do Flávio! rs
Ele queria montar um projeto mais dentro de um contexto de produtor, não uma banda em si, mas com vários convidados. Aí ele me convidou e me mostrou duas ideias rítmicas (que vieram a se tornar as músicas 1973 e Mundo Probabilidades). Pensamos em chamar o Cox pra ser o primeiro convidado. Ele acabou sendo o único e viramos uma banda! rs
Claudio Cox – Fiz uma letra e um vocal pra essa música e a partir daí rolou a coisa toda.
2-Quais as influências da banda?
Claudio Cox – É muita coisa, antes de tudo, nós gostamos de música, sem barreiras. É evidente que a banda acabou absorvendo as coisas que temos em comum e no começo tinha uma coisa explicita com a Blues Explosion, Grinderman, Tom Waits, mas da minha parte tem muito de bandas nacionais, Cólera, Ratos, Inocentes, Camisa de Vênus, Titãs, Cidadão Instigado, Mundo Livre.
Galvão – rock primal, blues, barulho, improvisação, cinema, literatura…
3-A sonoridade do Giallos vai além do Blues, do Garage Rock e do Freejazz embora sejam influências mais perceptíveis, falem um pouco sobre a sonoridade da banda?
Galvão – Penso que por mais caótico e barulhento que possamos soar, existe uma base elementar que é muito simples e minimalista. Pode estar rolando um momento noise máximo no nosso som, mas essa essência simples sempre está ali presente e ela que nos salva! rs
Claudio Cox – Cara, a gente até já conversou sobre isso a pouco tempo, o que eu posso te dizer da minha parte é que não é o que eu imaginava (ainda bem!) quando começamos, foi uma coisa que foi se desenvolvendo, sei lá, não tinha um planejamento, nos juntamos pra fazer uma música que fosse instigante pra todos e assim fomos indo e desse modo eu acho que adquirimos uma particularidade sonora.
4-De onde veio a ideia de cantar no formato spokenword?
Claudio Cox – De uma música do Tom Waits, “What’s He Building?”, que foi a referência que o Flávio me deu pra escrever a primeira letra, quando era ainda um projeto. Aí a partir dessa música fomos desenrolando as outras composições e acabou virando uma característica da banda.
5-Os discos Amor só de mãe, o EP Blaxxploitation e Missa do galo foram gravados de que forma? Nos fale um pouco sobre o processo de gravação destes registros?
Claudio Cox – Gravamos todos os discos da mesma forma, ao vivo, todo mundo junto na mesma sala. As únicas diferenças foram os estúdios, uns mais high e outros mais lo-fi. O “Amor” e o “Missa” tem a mão dos produtores na gravina, Lê Almeida e Luis Tissot, respectivamente.
6-Diz aí, 5 livros/HQ’s, 5 filmes e 5 discos favoritos que você levaria para uma ilha deserta?
Claudio Cox – Eita! Isso é sempre um martírio, mas vamos lá:
Livros:
Sentimento do Mundo(Drummond)
Los 3 Amigos (Laerte, Glauco e Angeli)
O Príncipe (Maquiavel)
Eu (Augusto dos Anjos)
O Mistério do 5 Estrelas (Marcos Rey)
Filmes:
Pixote (Babenco)
Pulp Fiction (Tarantino)
Django (1966) ( Sergio Corbucci)
Halloween (1978) (John Carpenter)
A Meia Noite Levarei Tua Alma (Mojica)
Discos:
Rocket Russia (Ramones)
Lóki (Arnaldo Baptista)
Paulo Sérgio (1969)(Paulo Sérgio)
Brasil (Ratos de Porão)
Malandragem dá um Tempo (Bezerra da Silva)
Galvão – Daqui 5 minutos essa lista vai mudar, mas vamu la! Rs
Livros:
Tao Te King (Lao Tse)
Flashbacks (Timoty Leary)
Cem Anos de Solidão (Gabriel Garcia Marquez)
Mate-me Por Favor (Legs McNeil, Gillian McCain)
A Love Supreme (Ashley Kahn)
Filmes:
Sonhos ( Akira Kurosawa)
Death Proof (Tarantino)
Montanha Sagrada (Jodorowisk)
Iluminado (Kubrick )
Estômago (Marcos Jorge)
Discos:
A Tábua de Esmeraldas ( Jorge Ben)
Os Afro-sambas (Vinicius de Moraes e Baden Powell)
Kulu Se Mama (John Coltrane)
Check Your Head (Beastie Boys)
Ramones (1976)(Ramones)
7-Parafraseando o grande Bukowski em escrever para não enlouquecer, (o que vocês andam fazendo, ouvindo, lendo e assistindo) para não enlouquecer no atual momento em que passamos?
Claudio Cox – Ando escutando e assistindo tudo que citei, de novo o “Besta Fera” do Jards Macalé (que por incrível que pareça foi um dos últimos shows que vi antes da quarentena), de filme destaco “Invasão Zumbi”, sul-coreano chapa quente que parece uma metáfora da pandemia e “Greta”, produção nacional lindíssima, Marco Nanini destruindo. Na leitura os últimos foram: “Noites Tropicais”, memórias musicais do jornalista e produtor musical Nelson Motta, “Eu não sou cachorro, não”, que fala da música “brega” durante a ditadura (64/85) no Brasil, “Cale-se”, também sobre a ditadura, “Pavões Misteriosos”, sobre a música pop brasileira durante os anos 70 e começo dos 80 e tô terminando “1968: o Ano Que não Terminou”, também sobre cultura pop brasileira e ditadura militar.
Galvão – Acho que nem o Bukowski imaginou essa condição que estamos vivendo como um gatilho pra loucura, mas vamu lá… rs
Tenho tentado tocar, tô num grupo de improvisação a distância (dança e música), tentando escrever, ouvindo música quase que sem parar (sem critério algum de estilo ou gênero), assistindo séries, filmes e docs a revelia e lendo Experiência Psicodélica baseada no Livro Tibetano dos Mortos (Timothy Leary)
8-Qual mensagem/conselho você deixaria aqui para bandas iniciantes? De que forma podem produzir seus discos e divulgá-los?
Galvão – Pratiquem a escuta, não só a ação de tocar. Se atentem ao que acontece ao seu redor. Dentro da perspectiva do capital, talvez nem 1 % de qualquer produção artística “dá certo”. Se manifeste com simplicidade e entrega que você terá muitos momentos de prazer.
Claudio Cox – Ah, mano! Eu não tenho muito conselho. Gosta de música e tá afins, vai lá e faz, do que jeito que der.
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