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GAAX (RJ), a banda de um homem só de Felipe Oliveira, metalúrgico de 28 anos, mostra em Naturalidade (2020) que seus sons internos são criados e amplificados através de encontros, da intensidade do trabalho de muitas mãos. Foi percorrendo o trajeto da Baixada Fluminense para o Escritório do selo Transfusão Noise Records, no Centro do Rio de Janeiro, que se construiu o disco entre amigos que há longos anos dividem os mesmos caminhos.
Em seu quarto álbum o músico faz um balanço, tira de dentro de si sentimentos guardados, soma com algumas sobras de outros discos, e traça algo novo, regado a lo-fi e experimentalismo. “Quando surgiu a ideia de materializar minhas composições, nasceu junto um diário de reflexões, acontecimentos, vivências e um processo de autoconhecimento amplo, onde tudo que vivo e sinto, com os pés no chão e consciente, se manifesta em música”, conta Felipe.
Abrindo com Ciclo, música cheia de guitarras barulhentas quebradas por uma percussão suave e hipnotizante, o disco dá uma amostra do que vem a seguir. Já em Meu Rifle, vem a promessa de hit pelo refrão chiclete e cantarolante “sei que meu troco está guardado na sua caixa registradora” – dá até para imaginar o fervor do público numa performance ao vivo. Algo que se despedaça com os acordes lentos e sombrios de Roques de Quarto, assim como em Adequada Ação.
A arquitetura secreta de GAAX remete ao instrumental melancólico de Daniel Johnston, marianaa e Sonic Youth, ao trabalho solo de Lee Ranaldo, ou ainda às guitarras angustiantes e raivosas do Dinosaur Jr. Mergulhado em memórias e pensamentos, Felipe se contradiz quando canta, em Outro Lado, que não teria nada a dizer. Aquilo que estava ali guardado até o momento entra em choque e se recria no encontro sonoro com seus amigos, como dá para sacar no potente coro em Vê se faz o que é certo. “Tudo foi se formando com a naturalidade real da amizade que tenho com todos que participaram”, ele reflete.
Ao contar sobre Naturalidade, Felipe se revela profundamente grato por criar músicas ao lado das pessoas com as quais divide sua história de vida. Como numa comunhão, algo de cunho religioso e espiritual; o que fica evidente no hino de louvor Luvzin, enraizada no roque gospel brasileiro da banda carioca Rebanhão.
Gravado em quatro dias no final de 2018, durante as férias corridas de Felipe, Naturalidade contou com a mão de obra dos integrantes da Oruã – antes de saírem em turnê pelos Estados Unidos e Europa com a Built to Spill no ano passado. O disco conta com as vozes de apoio dos camaradas Bigú Medine, Felipe Neiva, Gustavo Pires, João Luiz, Jorge Polo, Lê Almeida e Karolyne, esposa de Oliveira. As guitarras são de Raoni, Lê e João Luiz.Os baixos de Bigú, João Luiz e João Casaes. Algumas baterias são do Lê e outras do Phill Fernandes. Lê Almeida também assume a mixagem, e Casaes, além de adicionar sintetizadores, fica com a masterização. A capa do álbum, uma pintura de árvores se consumindo em fogo e fumaça, assim como os outros trabalhos do GAAX, é assinada pelo artista Jorge Polo.
“Afinal, reflita. Escute.”
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