O livro dessa semana foi sem dúvidas um choque literário. Acostumado a ler autores da língua inglesa, fazia tempo, desde que a avalanche de Paul Auster me atingiu que eu não lia nada tão bom.
Desonra, livro do sul-africano John Maxwell Coetzee, ou simplesmente J. M. Coetzee. Essa obra é considerada pela crítica como uma das melhores do autor. Sua fama pode ser atribuída não só pelo modo leve e solto com que o autor narra a história, mas também aos múltiplos desdobramentos, temas e conflitos do romance.
Em Desonra, somos convidados a seguir a trajetória de David Lurie, um professor cinquentão que é apresentado ao leitor, sob a forma de um lobo devorador de ovelhas, a metáfora é bem essa mesmo, Lurie adora se envolver com alunas bem mais novas do que ele.
Descontente com suas novas disciplinas que é obrigado a lecionar dentro da universidade onde trabalha, e com o desinteresse de seus alunos para sua matéria, David segue sua vida tranquilo, trabalhando, lendo e recolhendo materiais para um projeto que tem em mente, escrever o libreto de uma ópera sobre Byron, o grandioso poeta inglês. Entre esses atos rotineiros, Lurie dedica algumas tarde de seus dias aos prazeres carnais com prostitutas. Como o próprio narrador diz nas primeiras linhas, Lurie poderia muito bem ter sua vida sexual resolvida. Mas o seu desejo desenfreado o leva a se envolver com uma de suas alunas, uma jovem de carne tenra e seios perfeitos, e que o levam às profundezas de uma grande desgraça, não só profissional e psicológica, mas principalmente moral.
Escrito de maneira magistral, o romance fará o personagem descer ao mais baixo nível da dignidade e moral humana. Fora da universidade após o caso com Melanie, a aluna, David parte atrás de refúgio na propriedade de sua única filha, Lucy, que tem modos de conduzir a vida que o Lurie reprova. Os conflitos do livro são múltiplos, e o ambiente hostil de uma África pós-apartheid, com seus preconceitos e violências recaem sobre David e sua filha de maneira impiedosa e brutal.
O leitor que estiver disposto a encarar essa obra não terá muito tempo para respirar. A forma de escrita de Coetzze é hipnótica. As cenas se intercalam entre a calmaria e o tumulto. Trazem discussões sobre vida e morte, sobre a culpa e os direitos do homem. Mas em grau maior, o livro te fará refletir sobre a desgraça que recai sobre o homem que não consegue controlar seus impulsos. O resultado é um grande e poderoso romance sem comparativos.
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