Para início de conversa, Otto Lara Resende é um dos meus cronistas prediletos, páreo duro para o outro amigo dele, Nelson Rodrigues, ambos cronistas de mão cheia.
Otto Lara Resende nasceu em São João del Rei, Minas Gerais, em 1922, e morreu no Rio de Janeiro em 1992. Formado em direito, exerceu diversas profissões, de professor a adido cultural em Bruxelas e Lisboa. Jornalista, trabalhou em diversas publicações enquanto burilava uma relativamente pequena, porém significativa, obra literária. É autor do romance O braço direito, da coletânea de crônicas Bom dia para nascer (da qual falaremos abaixo), entre outros títulos.
Bom dia para nascer, é uma coletânea de crônicas publicadas na Folha de S. Paulo, sobre vários assuntos: os desajustes da política (vivíamos a Era Collor), os amigos desaparecidos (como Nelson Rodrigues, Vinícius de Moraes e Paulo Mendes Campos), os costumes no Rio de Janeiro (cidade que o mesmerizava), as mudanças no nosso idioma, a literatura etc.
Uma de suas cônicas mais divertidas e que teve acompanhamento dos leitores, foi a cronica sobre o desaparecimento do seu gato, chamada Volta Zano:
Na manhã seguinte, pânico geral. Não adiantou chamar, nem gritar. O conselho se ampliou e cada qual tinha uma opinião. Uma única inaceitável. Crudelíssima: tinha sido apanhado e comido. Sim, senhor. Estão comendo muito gato neste Rio de Janeiro. Não é gato por lebre, não. Gato mesmo. Até siamês, como o Zano. Tão bonzinho, tão bonito – a hipótese é absurda. Verdadeira blasfêmia. Aos onze anos, não é bobo. Já conhece o novo endereço e volta. Claro que volta. (Leia +)
Outra sobre o mestre Machado de Assis e a eterna epopeia da traição de Capitu em Dom Casmurro:
Bastaram dois versículos, 1 e 2, para me remeter ao capitulo 116 de Dom Casmurro, cujo o titulo é “Filho do homem”. Este é um dos capítulos que, ao meu ver, denunciam a infidelidade de Capitu.(Leia +)
Em Bom dia para nascer, que fala a respeito do dia do trabalho, dia 1º de maio e outros significados da data:
Em maio, e no dia 1º, nasceram José de Alencar (1829) e Afonso Arinos (1868). Dois escritores, dois verdes. O indianista e o sertanista. Ambos enfática e ecologicamente brasileiros. Não será mera coincidência a data da certidão de nascimento do Brasil. A carta de Pero Vaz de Caminha é de 1º de maio de 1500. Como o Brasil também é Touro, está difícil de pegá-lo à unha. Mais poeta que escrivão, Caminha foi o primeiro ufanista. Também pudera: em 1500 tudo ainda estava por ser destruído.(Leia +)
Otto Lara Resende é dono de uma escrita muito fluida, simples e estilística. Engraçado e domava a língua portuguesa como poucos, um grande jornalista e um gigante cronista. Fica a dica para uma leitura leve, divertida e altamente informativa, até a próxima!!!
Ótimo!