Reconstruir coisas nem sempre é fácil. Existem pessoas que recomeçam de maneira brilhante. Admiro isso. Eu nunca reconstruí nada.
Acho que quando se tem a idade que eu tenho, velho de asilo, como já fui chamado, não se quer reconstruir mais nada. Só o que queremos é não desconstruir, não arruinar-se, somente.
Isso pode soar como desvalorização da vida, eu sei. De fato pode parecer exatamente isso, entretanto, paro e penso, quantas coisas eu poderia ter reconstruído em minha vida para não acabar aqui, sentado numa cadeira de palha, na varanda de uma casa de repouso no fim do mundo?
Poderia ter reconstruído meu casamento. Só o segundo, não o primeiro. Poderia não ter tido uma amante ingrata. Também poderia não ter escolhido seguir a mesma carreira que meu pai.
Aliás, se pudesse recomeçar de forma brilhante, igual as pessoas que admiro, eu não teria nascido na família na qual nasci e principalmente, no segundo casamento, não teria filhos.
Um velho amigo meu sempre me dizia que, ao final da vida, depois das primeiras doenças e depois que a vitalidade está fora do corpo, tudo o que os filhos mais querem é esquecer de você e largar os pais estacionados, como carros velhos sem motor.
É por isso que os asilos existem, ou casas de repouso. Nome chique para um lugar triste e ausente. Deve ser por isso que todas as pessoas que passam por aqui, e com quem eu converso dizem praticamente sempre a mesma coisa.
“Se eu pudesse recomeçar, faria tudo diferente e talvez não estivesse aqui hoje.”
Aí eu digo, sem remorso e conformado com a realidade, que a melhor maneira de recomeçar e parar de remoer o passado é arrastar os chinelos, dia após dia e esperar. Esperar que seus filhos ou netos te visitem pela última vez.
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