Óleo sobre tela – A banda mais bonita da cidade

Caros leitores e amigos do Duofox!!! Este ano de 2021 não poderia começar melhor, resenhando uma das bandas mais incríveis do interior de São Paulo.

Óleo Sobre Tela, de Bragança Paulista. Eles não se encaixam num estilo único ou como uma banda convencional. Isso aqui é um supergrupo, um coletivo artístico que está na ativa desde 2004.

FORMAÇÃO

Na sua formação conta com figuras talentosas da cena de Bragança, podendo citar o Rodrigo Santos nas guitarras (Digo – da Digo Discos) que já tocou na lendária Desvio de Conduta, Charles Paixão (Charlão) nos vocais e gaita – desenhista de mão cheia e o Dave Mambera, também um desenhista surreal e historiador – na percussão e voz.

Completam o time, Fernando Bié no baixo, Rodrigo Cobrero na bateria e Eugenio na outra guitarra e voz. Esse coletivo teve vários line-ups, inclusive fazendo parte nos seus primórdios a Prika Amaral, da banda consagrada Nervosa Trash, que é amiga pessoal de todos eles e deixou um lindo texto no final do encarte.

CD da banda
Poster fodão que acompanha o CD da banda

Documento Naif (conceito designado a artistas autodidatas) é o nome desta obra definitiva da banda. Definitiva não no sentido de adeus do último disco, mas sim é um documento histórico que catalisa o Óleo Sobre Tela e consolida de vez sua áurea “cult”, o seu formato (se é que podemos definir uma forma para essa trupe)

O disco foi gravado em meados de 2020, em plena pandemia nos estúdios do Rodrigo Gianini, a Brakiara Records, que foi preciso na produção, gravando tudo ao vivo.

É um Disco/ Zine, formato muito utilizado nos anos 90, bem caprichado, que contou com a colaboração de diversos artistas nos desenhos das artes do encarte.

Cada música, devidamente explicada a sua inspiração, leva a assinatura de um artista diferente, deixando o trabalho genial, artístico e apetitoso.

Cheios de referências literárias, folclóricas e poéticas as letras são o diferencial aqui, e que acompanhadas com as músicas nos levam a uma experiência artística única. Pois bem, vamos a elas:

Asas

Música de abertura, punk agitado com letra curta e poética. O refrão final merece um coro uníssono “ COLOCAR ASAS EM SERES INANIMADOS”

Óleo Sobre Tela

Desculpe, mas com certeza o Tim Maia sambaria nessa canção.
Riffs funkeados, bem soul music, o punk coroando o funk com a coroa de espinhos de Cristo.

Hermínia

Outro som porrada, acelerado para cantar a plenos pulmões: “Se sou Hermínia! Eu mato a quem puder. Se sou Hermínia! Salve-se quem puder”

Inspirado na obra de Herman Hesse, em que Hermínia – na obra é assassinada – aqui na letra do Óleo ela ressurge para sua vingança!

Verdade Nua

Charlão está impecável na intro com sua gaita cortante.
Meio rockabilly meio punk uma das mais agitadas do disco. Destaque na arte a cargo de Alexandre Beraldo, um dos desenhos mais legais do encarte.

Mater Tenebrarum

Mais uma arte matadora do encarte. Quem assina é um dos integrantes, o grande Mambera, num desenho que vai deixar muito evangélico petrificado.
Música e letra comungam muito bem aqui numa vibe libertária.

Festival de Inverno de Bragança Paulista

Ode a Vila Velha

Música antiga, que aqui ganhou um belo registro.
Letra extraída de um antigo zine do Dave Mambera.

Poesia musicada lindamente, para tocar numa roda de fogueira com os amigos em dias de acampamento. Para não deixar saudade e exorcizar de vez os covers de Renato Russo. Sejam originais, e causem esse impacto, fica a dica para as próximas fogueiras juvenis.

O Cavaleiro Azul

Outra bela canção, mais uma com a gaita enfurecida do Charlão. A letra faz referência ao movimento expressionista alemão Der Blaue Reiter.
Poesia linda!

Al Jazzera

Música que mais destoa do disco, ritmo folclórico, me remete a cantigas de capoeira. Letra triste que reflete os horrores da Guerra do Iraque e aos conflitos constantes no Oriente Médio. A mais reflexiva do disco.

Pensão Familiar

Letra irreverente, crônica da vida cotidiana nas cidades.
Canção divertida, um dos “hits” da banda ao vivo que ficou muito diferenciada com inserção de poemas aclamados no meio do barulho.
Bichos escrotos do Dave Mambera e Anatomia do verbo do Rimbaud dão o peso caótico na música.

Caim Matou Abel (por dívida de drogas)

Título maravilhoso, música idem, porrada na orelha.
Punk, subversivo, uma sátira bíblica trazida para os tempos atuais.
Só podia vir da mente brilhante do Charles Paixão.
Xô pastores inconvenientes!!!

Menino Massa

Música com belo ritmo, aqui mais uma vez influenciada pela batida funk nas palhetadas do Digo. Podemos sentir nuances de maracatu nos refrões pesados que diz assim: “ Percebo um menino mulambo, mulato dentro da lata de lixo de mãos atadas”

Patifaria Contemporânea

Finalização do disco com uma faixa de protesto, old school, três acordes e direta. Entrou como “bônus track”, letra e música antiga de autoria do Digo (aqui ele toca e canta). Segundo o próprio era original da banda Desvio de Conduta e aqui foi regravada para o Óleo em 2004.

Documento Naif é um disco necessário e urgente para quem almeja entender, e se aprofundar mais nesse universo musical criado por eles.

Sentir um pouco essas sensações que cada integrante passa, esse aprendizado crú do punk, do do it yourself, aqui devidamente entendido e extraído da sua essência.

Arte sem fronteiras, coletiva, abrangente e principalmente plural. 2021 saúda o Óleo sobre Tela!!!!

E pra finalizar a resenha, confira os sons da banda no Spotify

 

Tito Cepoline Escrito por:

Entrou para compor o timaço do podcast ABUTRES NÃO OUVEM JAZZ, formando o power trio mais improvável e pra lá de especial. Apaixonado por viagens e artes no geral, em especial a música, tem ouvido aberto para vários estilos, alguns bem peculiares e passeia na linha que vai do jazz ao hardcore. Viagens e Música não são meros itens na prateleira!! Seguindo essa máxima, segue na luta diária de promover, divulgar, incentivar cultura, arte independente, lugares pitorescos, praias belíssimas que tanto são necessários para nossa sobrevivência!!

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