É engraçado ver a corrida das pessoas no final do ano. Compra isso, compra aquilo, arruma isso, desarruma aquilo. Sentar na praça e ver tudo isso é muito bom. Bom por diversos motivos.
Primeiro, pois as pessoas sabem que tudo o que fizerem nas festividades será tão passageiro quanto o pousar do pombo para colher as migalhas do pão.
Segundo, pois todos percebem que o relógio está cada vez mais rápido a cada ano que passa, e as pequenezas estão ficando de lado, e mesmo assim eles continuam em busca de algo que nunca vem.
E terceiro, talvez o que eu julgo ser mais importante, é saber que dinheiro, roupas e toda a felicidade para brindar um novo ano não trarão um ano melhor.
Meus amigos me chamam de pessimista, dizem que já posso morrer e ser enterrado. Eu chamo isso de noção da realidade absoluta, alguém escreveu sobre isso, mas não lembro quem.
Passo as tardes sentado praticamente no mesmo banco perto da igreja. Repito isso desde meus 12 anos. Hoje tenho 78.
É engraçado, e se torna mais engraçado ainda, depois de tanto tempo, piscar e notar, ainda que com angústia no peito, que a única coisa que mudou, de lá para cá, foi o modo como as pessoas tiram as fotos.
Por que o resto, bem, o resto está do mesmo jeito. O vazio dentro de cada um é exatamente o mesmo. Só o que muda é um sorriso ou outro e a idade.
Mais um ano escapando pelos dedos e outro não querendo parar nas mãos. Espero não estar mais aqui ano que vem. E sabe o que é mais engraçado?
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