As manhãs são quase sempre cruéis. Na realidade as segundas costumam ser cruéis. Os poucos instantes que separam o final de semana da segunda nos deixam angustiados. É como se uma sombra se lançasse de um grande abismo e nos cobrisse feito um cobertor no escuro de uma sala.
Nunca porém, paramos para pensar por que a segunda-feira se tornou um dia de aborrecimentos e desânimo. Talvez isso tenha ganhado força nos últimos anos, num momento em que as vidas foram ficando mais aceleradas no que chamamos de mundo globalizado.
Viver a segunda é iniciar a corrida atrás do dinheiro que nunca vem, das relações que se desgastam, dos abraços falsificados ou das despedidas verdadeiras. Abrir os olhos na segunda deixou de ser um ato impensado. Quantos de nós não escuta o celular despertar com aquela música agitada na esperança de que o dia não comece? Quem nunca pensou em não acordar para o sombrio dia. Raros seres viventes apreciam a segunda-feira. E se alguém gosta desse dia amaldiçoado, se torna uma pessoa estranha, quase do avesso.
Engraçado que ao refletir sobre os dias da semana, em que vamos ao trabalho, faculdade ou academia, constatamos o óbvio. A segunda é igual a qualquer outro dia. O relógio marca as horas sem injustiça. As segundas, as terças e as quintas dos tebetês recorrentes nas redes antissociais são os mesmos, e cadenciam os finais de semana. Só existe uma diferença.
Os ponteiros dos finais de semana são feitos de tudo aquilo que queremos ter dentro de nós, a energia de viver, os sorrisos e as amizades verdadeiras, cada vez mais raras. Já os ponteiros da semana cruzam nosso caminho numa espécie de entidade disposta a tudo para nos apunhalar na primeira oportunidade. Mas no fim, o ano reserva pelo menos 52 dias como esse. Por que não começar a repensá-los?
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