Os tempos são outros. Isso é fácil de escutar por onde vamos. Realmente faz sentido. Os tempos são outros e dos outros. Tudo o que fazemos diariamente é nivelado e comparado. Uma foto aqui outra ali e a autocrítica surge rápida como um gato atrás da presa.
As pessoas estão cada vez mais sem tempo para reuniões que não geram lucro. Viver numa bolha parece a única forma de não cair no limbo dos cartões e boletos que nos consomem dia após dia, e sucumbir a uma avalanche de risadas e curtidas que deixam todos felizes menos nós mesmos nos leva a crer que essa será nossa sina.
Os tempos são outros. Não temos mais tempo para passear com o cachorro na praça sem músicas grotescas que nos ofendem sem pedir desculpa. Uma pizza com os amigos ficou ainda mais rara. Não há tempo para prazeres que nutrem a alma, só para os que deterioram nossas mentes, corpos e trituram nossa conta bancária. Em meio a tudo isso parece haver uma maravilhosa solução que parece estender-nos a mão. Desligar o smartphone e olhar para a última foto que tiramos com alguém que realmente merecia uma foto.
Quando escuto a frase, os tempos são outros, fico triste, volto para casa cabisbaixo por saber que os tempos são outros, e que outros tempos virão, e outros, todos prontos para sugar o que resta de vida em nossos corpos cada vez mais ansiosos por ocupar um lugar diferente. Diferente daquele lugar que ocupa o vizinho, ou o amigo do nosso primo, que acabou de postar mais uma foto alegre no instagram e que já tem mais curtidas do que conseguiremos no ano todo, talvez numa vida toda. Os tempos são outros. E como os Engenheiros do Hawaii dizem numa música, os tempos são outros, os erros, os mesmos.
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